por Wellington Balbo
Artigo publicado originalmente no jornal Interação da USE Sorocaba.
Uma de minhas maiores frustrações nessa existência foi a de não ter tido um irmão mais velho. Lembro-me que meus amigos, meio que desdenhando de mim e com a empolgação natural dos jovens narravam as aventuras de seus manos, colorindo-as com a imaginação adolescente que se abria para as descobertas da vida.
O Luis Heleno, um colega de escola, sempre me provocava contando os feitos de seu irmão mais velho, o Demócrito:
- Demócrito quer ser médico. Ele é muito estudioso, inteligente, amigo e elogiado pelos professores. Serei igual a Demócrito, dizia Luis Heleno para me provocar, pois sabia que eu não tinha irmão mais velho para admirar.
E o mais interessante é que o tal Demócrito era tudo isso mesmo. A última vez que tive notícias dele fiquei sabendo ser um conceituado médico.
Não preciso dizer que Luis Heleno seguiu seus passos. Por influência do irmão foi bom filho, aluno dedicado e cidadão consciente. E não é que também tinha vocação para a medicina. Hoje é um competente cirurgião cardíaco.
Outro colega admirador confesso do irmão mais velho era o Marquinhos. O irmão do Marquinhos chamava-se Nestor. Jovem inteligente e com espírito empreendedor, Nestor trabalhava de borracheiro num lendário bairro de Imperatriz do MA chamado “Quatro Bocas”. Não tardou para abrir sua própria borracharia. Com seu empenho sustentava pai, mãe e demais irmãos. Marquinhos tinha razão em olhá-lo com muito carinho. Seguiu seus passos e tornou-se também um competente borracheiro. Ambos ficaram sócios e prosperaram na vida, tanto materialmente como espiritualmente. Nestor e Marquinhos são homens de bem.
E o que me deixava mais acabrunhado era que eu não tinha irmãos para admirar: Os irmãos mais velhos de meus amigos recebiam olhares de admiração e ternura, semelhante aos que os fãs lançam aos seus ídolos.
Por isso eu também queria ter um irmão mais velho. Alguém para me inspirar, um herói que me indicasse o caminho das pedras.
Não precisava ser nenhum Demócrito ou Nestor, que fosse José, Paulo, Maria. Não sei, mas algum irmão mais velho eu queria.
E sonhava dia e noite, noite em dia com essa ventura. Um irmão mais velho para animar os meus dias. Para eu contar histórias, para eu vencer com ele.
Porém, eu era deserdado nesse quesito. Nada de irmão mais velho. Eu era o primogênito e não tinha a menor vocação para ter admiradores.
Pensei então em admirar o irmão mais novo. Mas ele era muito pequeno, não contava histórias, não brincava de herói tampouco ia à escola. Como poderia eu admirar um bebê? Em minha cabeça de adolescente um bebê nada tinha para ser admirado. Hoje penso diferente, mas na época...
Porém, naquela noite chuvosa de janeiro do ano 2000, em Centro Espírita Joana D’arc, Bauru SP conheci um irmão mais velho, ou melhor, O Irmão mais velho.
Um irmão carinhoso, alegre e exímio contador de histórias. Tudo que eu queria: alguém para me fazer embalar em suas aventuras. Revivi então o meu tempo de adolescente. Enfim, ganhei um irmão.
E esse irmão falava do bom samaritano, da mostarda, do filho pródigo, do servo inútil e tantas outras narrativas que me encantaram de início.
Era um irmão peripatético, ensinava caminhando, andando pela natureza e agradecendo o show da vida.
Confesso que meu irmão nada tinha de convencional.
Enquanto o mundo amava o poder ele preferia a simplicidade.
Enquanto o mundo saudava os grandes ele exaltava os pequeninos.
Enquanto o mundo odiava ele pregava o perdão sem limites.
E cada vez mais eu mergulhava nesse seu universo mágico e profundo.
E fui descobrindo as virtudes desse novo irmão mais velho: amigo, companheiro, gentil...
Notei que meu irmão não discrimina ninguém e abraça os meus amigos como seus irmãos também.
E mais admirável ainda: meu irmão desconhece barreiras ideológicas, sociais, étnicas...
O meu irmão ama opositores e levanta seus detratores.
Esse irmão paga o mal com o bem.
Dá vida onde há trevas.
É sereno, sábio e profundamente compreensível com os equívocos alheios.
No entanto descobri que meu irmão não era apenas meu, mas do mundo.
O tão sonhado irmão mais velho me convidava a distribuí-lo entre a multidão, com pobres do corpo e da alma, com carentes, ricos, mendigos, homens e mulheres...
Ah, que nobreza desse nosso irmão, pois já não posso chamá-lo de meu. O Meu aprisiona e subtrai, porém o Nosso liberta e soma.
Ele me mostrou isso, mas ainda não consegui colocar em prática. É que nossa diferença moral é imensa e embora ele lute para que eu um dia atinja o seu estágio de consciência eu encontro-me na batalha para vencer o egoísmo que teima em caminhar comigo.
O nome de meu irmão, ou melhor, nosso irmão?
Jesus de Nazaré, um irmão a ser seguido, admirado, amado...
Para mim Jesus é o irmão mais velho que não tive.
Quero um dia poder mostrá-lo ao Luis Heleno e o Marquinhos e dizer-lhes com muita alegria que eu também tenho um irmão mais velho.
Mas eles poderão rir de minha ingenuidade ao afirmar:
- Este irmão não é apenas seu, mas meu também!
2 comentários:
Olá, Amigo!
É... Nem tudo que reluz é ouro.
Ás vezes temos irmãos mais velhos mas só temos...
Eu sempre reclamei por não ter tido uma irmã. Com o passar do tempo, aprendi muito e descobri que Deus não me deu uma irmã de sangue, mas várias primas e amigas que fazem por mim o que talvez, uma irmã de sangue não faria.
O melhor mesmo, é ter Jesus como exemplo. Ele é nosso irmão e nosso exemplo.
Caminhe nos Seus passos se queres ser feliz!
Bjs,
Lykka
adorei a sua fala esperançosa de irmão mais velho que vc conheceu, apaixonou-se e procura seguir os seus exemplos ,trazendo pra nós, mensagens confortantes, esperançosas e com uma orientação de bom senso.
Obrigada amigo pelo seu trabalho bonito e encentivador.Que nosso irmão mais velho Jesus possa estar sempre em seus pensamentos e nas sua palavras!
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