Quando o julgar cede espaço para o compreender

por Wellinton Balbo


Em respeitável instituição religiosa:

- O Laércio é um desequilibrado; sujeito grosso, mesquinho, verdadeiro casca grossa, o senhor pode escolher: ou ele ou eu.

O dirigente ponderou no pedido de Antunes um dos colaboradores da instituição, e após breve reflexão deu seu parecer:

- Realmente você tem razão, Laércio é pessoa complicada. Eu sou seu amigo e gostaria de continuar contando com seu concurso, você sabe a dificuldade que temos para encontrar voluntários com senso de responsabilidade igual ao seu, pra mim seria muito mais fácil optar por você, todavia, Laércio necessita de nossa Casa, é companheiro com extremas dificuldades, não posso simplesmente descartá-lo em momento delicado de sua jornada. Você está preparado a seguir caminho em outros recantos se for de sua vontade, no entanto aqui terá sempre a porta aberta. Jesus te acompanhe.

No ambiente profissional, somos obrigados a guardar convivência com àqueles que não nos afinizamos, afinal, a luta pelo ganha pão diário nos impõe a situação.

No lar também não é diferente, por vezes pouca simpatia temos por familiares que nos acompanham mais estreitamente a jornada e obrigados somos a “suportá-los”. Entretanto o melhor para todos é que aprendamos a amá-los, mas isso é tema para outro texto.

Porém, o mesmo não ocorre quando nos propomos a realizar o trabalho voluntário, e concluímos de forma precipitada:

- Serei voluntário, porém, não sou obrigado a conviver com pessoas antipáticas, se cruzarem meu caminho, dou um tchau e vou-me embora!

Realmente, não somos obrigados a conviver com quem não temos simpatia, no entanto, convido o leitor a refletir em outro ponto da questão:

O cultivo da reflexão em torno do comportamento alheio.

Podemos, ao invés de nos irritar e intempestivamente decidir “abandonar o barco”, procurar compreender o que levou a pessoa a tomar determinada atitude.

Excursionemos intimamente:

Atravessa ela momentos complicados?
Esta necessitada de apoio?

Ao fazermos essas reflexões teremos mais material para análise e provavelmente, isto é, se tivermos boa vontade, deixaremos de julgamentos impiedosos.
Comumente a criatura de difícil trato traz em si um amargor que não agrada nem a ela mesma. Essas pessoas têm poucos amigos, reclamam em demasia da vida, e consideram-se injustiçadas. Sua existência é sem brilho, por isso, sejamos compreensivos, porquanto, também temos nossas neuroses e somos necessitados de igual compreensão.

A compreensão sempre cobra a renuncia, entretanto, seu sabor é inigualável, pois nos rende a vitória sobre o egoísmo que por vezes caracteriza nossa maneira de agir.

E de tanto exercitar, um dia tornaremo-nos craques na arte da boa convivência e deixaremos de suportar para verdadeiramente amar aqueles que nos cercam, e o julgar dará natural e simplesmente o lugar ao compreender.

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