O apressado posta cru

A notícia veiculada sobre a morte de Gugu Liberato, sem que, contudo, a morte tenha ocorrido, deixa explícito uma das muitas curiosidades de nosso tempo: a pressa. Temos pressa para tudo e esperar tornou-se um sacrifício, embora junto com a morte seja uma das poucas certezas que temos.
Dia desses fui num restaurante almoçar e, pra variar, estava com pressa. Perguntei em quanto tempo o "prato" ficaria pronto. O atendente, em descompasso com este mundo tão apressado, disse tranquilo: "É rapidinho, mais ou menos uma hora".
Falei pra ele: esquece, tenho pressa, vou é comer um pão com mortadela bem ligeiro. Ele apenas sorriu, sem nenhuma pressa. Eu saí pensando: que mundo esse cara vive?! Pois é... Queremos ficar ricos depressa, formar-se em complexas áreas do conhecimento humano com toda rapidez do mundo em cursos de uma semana... Parece que contraímos o vírus da pressa.
Tive um chefe que costumava dizer: "Este trabalho não é pra hoje, mas pra ontem". Até os chefes, essas figuras acima do bem e do mal, contraíram o vírus da pressa. No que concerne às notícias, então, a pressa está ainda mais na moda. Queremos espalhar toda e qualquer notícia sem checagem, sem averiguação e sem qualquer compromisso com a verdade, pois o intuito principal, que deveria ser secundário, é postar.
Postar rapidinho para obter likes, para lacrar ou angariar seguidores e, nesses pontos, portanto, a pressa é importante porque ninguém gosta de notícia requentada. Mas com a pressa vem a perda da credibilidade, ao menos para quem preza por informações corretas e precisas. Ademais, a pressa traz de reboque o abalo da credibilidade de quem não sabe esperar.
Já dizia minha saudosa mãe: "O apressado come cru". Nos dias de hoje podemos dizer: O apressado posta cru.

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