por Wellington Balbo
Lúcia, 16 anos, bela adolescente de olhos azuis que contrastavam com sua tez morena, morava em pequena cidade encravada no interior de nosso Brasil. Além de boa aluna era filha exemplar. Sempre procurara seguir as lições ministradas pelos seus pais, pessoas simples e com altos valores morais. Hormônios em ebulição, curiosidade inerente da criatura humana e atração pelo sexo oposto foram as misturas que fizeram a paixão eclodir por Arthur, moço bonito, mais velho 5 anos, estudante de medicina de cidade próxima a sua.
Conheceram-se e não tardou para o namoro engrenar. Arthur, o supra sumo da gentileza, estudava a semana toda, mas sábado e domingo passava o dia com sua amada Lúcia. O rapaz, querido por toda a família da namorada, prometera a ela mundos e fundos, uma vida de amor, regada a compreensão e carinho. Teriam dois filhos, seriam felizes, ela formar-se-ia em psicologia, ele, futuro cardiologista, sonhava em ver seu nome estampado nos mais importantes jornais do país. Sim, tornar-se-ia grande médico e dignificaria a condição humana, salvando vidas e restituindo esperanças, seria fiel escudeiro da ciência na luta para perpetuação da espécie.
Após 1 ano de namoro, quando Lúcia estava prestes a concluir o ensino médio e ele o segundo ano da faculdade de medicina, a amada telefonou-lhe e deu a notícia:
- Parabéns, papai!
Ele, sem nada entender, perguntou:
- O que houve, Lúcia, está me chamando de papai, qual a razão disso?
Ela, a queima roupa, prosseguiu:
- Papai sim, estou grávida, vamos ter nosso filho, não foi planejado é verdade, mas é nosso filho.
O rapaz empalideceu. Seu mundo desabou, jamais imaginaria receber uma notícia dessas, ainda mais agora que estava no começo do sonhado curso de medicina. Apenas disse à Lúcia:
- Tenha calma, final de semana conversaremos.
No entanto, Lúcia não estava nervosa, ao contrário, a alegria por esperar um filho do amado a contagiava, aguardaria com ansiedade o momento de encontrar Arthur e dar-lhe um abraço.
Arthur chegou no sábado, como se nada houvesse ocorrido, cumprimentou a namorada e foi logo dizendo:
- Não podemos ter esse filho. Somos novos, estamos começando a vida, um filho agora colocará fim aos nossos planos, teremos vida complicada, sofrida, sem perspectivas. Como sou estudante de medicina consegui com um amigo remédio para que seja interrompida a gestação.
- Mas, Arthur – disse ela – não quero abortar, desejo ter o filho, levar adiante.
- Lúcia, aqui ninguém falou em aborto, vamos apenas interromper a gestação que está no começo, fique tranqüila, não haverá problemas, confie em mim. Seremos felizes, meu amor, acredite, estamos fazendo a coisa certa, apenas adiaremos nosso filho por alguns anos, mas o teremos, com certeza.
Lúcia, mais tranqüila com a resposta do namorado acreditou em suas palavras e tomou o remédio para interrupção da gravidez. Aquele foi o último final de semana que Lúcia viu Arthur, o estudante de medicina, que sonhava em salvar vidas, desapareceu da vida de Lúcia, deixando a triste lembrança de ter exterminado uma vida no ventre da jovem que cedera aos encantos da paixão.
Por muitos anos aquele aborto deixou Lúcia uma pessoa desanimada, sem planos, projetos e sonhos. Considerava-se indigna da felicidade por ter arrancado de suas entranhas um filho. Sentia-se suja e cruel. Definhou a olhos vistos e desencarnou ainda jovem, com 28 anos, carregando consigo uma culpa que poderia perfeitamente ser sanada com trabalho em prol do semelhante.
A história de Lúcia retrata a de muitas pessoas que se equivocam nos caminhos da vida. Espíritos ainda em busca de equilíbrio, através das experiências vamos aprendendo. Se formos desistir, parar e desanimar porque pegamos o bonde dos desatinos estaremos incorrendo em mais grave erro, porquanto Deus não fecha as portas aos seus filhos.
Sempre há uma forma de retificar os enganos que cometemos. Lúcia, em vez de se entregar ao desanimo, poderia ter arregaçado as mangas e abraçado o trabalho em favor do semelhante como forma de amenizar suas atitudes de outrora. Há pessoas que sofrem porque desconhecem as flores existentes nas trilhas do bem. Estas flores desabrocham por meio de nossas iniciativas. O desânimo, a amargura, as culpas que carregamos não irão apagar os erros que cometemos, entretanto, a disposição em servir será sempre uma forma de restituir o equilíbrio e retemperar nossas energias para prosseguirmos na caminhada com coragem.
Extraindo de nossas experiências lições produtivas, avançaremos o sinal que separa a imaturidade de nossas atitudes intempestivas das atitudes maduras, próprias das almas que já se encontraram nos caminhos da existência e sabem perfeitamente se levantar de uma queda.
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