por Wellington Balbo
No futebol funciona assim:
Se meu time faz o primeiro jogo em casa, na Taça Libertadores da América, a segunda partida é fora.
Se meus zagueiros empolgados pela torcida abrem a “caixa de ferramentas” e acertam os avantes adversários, é certo de que no chamado jogo de volta haverá o troco.
Dizem que são os princípios de justiça que norteiam o esporte bretão.
Mas, indaguemos:
Será mesmo justiça ou se trata de vingança?
A linha que separa a vingança da justiça é tênue.
Longe da Libertadores da América, mas nos bastidores do dia a dia muita gente no mundo clama por justiça, mas quer a vingança.
Portam-se como os zagueiros no jogo de volta: ABREM A CAIXA DE FERRAMENTAS!
Pode ser que algum de nós em determinado momento da existência também tenhamos avançado o sinal pedindo justiça, mas com o intuito de vingança.
É bom, entretanto, ficarmos atentos ao nosso comportamento para não nos enganarmos, ou seja, considerarmo-nos pessoas que lutam pela justiça quando, em realidade, alimentamos em nós a famigerada vingança.
E bem sabemos que a vingança é uma das mais pesadas malas que o ser humano ainda teima em carregar em suas andanças pela Terra.
É pesada. Desgasta o corpo, acaba com o tempo, envenena o coração...
Como, então, saber definir se o que eu quero é justiça ou vingança?
É muito simples:
Quando temos o desejo de punir é vingança.
Quando pensamos em educar é justiça.
Se queremos ver alguém atrás das grades por que é a punição correta para algum crime é vingança.
Porém, se queremos ver alguém sendo educado para que não mais cometa seus equívocos, ai é justiça.
No premiado filme “Ghandi”, do ano de 1982 contém belíssima mensagem sobre justiça e vingança deixada pelo Mahatma.
Um pai desesperado, olhos esgazeados e coração atormentado chega até a Grande Alma da Índia e diz temer ir para o inferno, pois esmagou a cabeça de uma criança. Questionado por Ghandi a razão de ato tão bárbaro, o desesperado pai em prantos explica:
- Os muçulmanos mataram meus filhos, toda minha família.
Ghandi, então, em momento capital de sua existência, pois jejuava para que os conflitos entre hindus e muçulmanos cessassem, deu bela lição àquele pai e todos os outros que ainda se debatem no velho petitório de justiça:
- Conheço uma fórmula para que você não vá para o inferno, meu filho. Adote uma criança cujos pais foram mortos em combate. Mas há uma condição: Ela deve ser muçulmana e você terá que educá-la dentro dos princípios desta religião.
Beleza de recomendação!
A cena que se passa no filme me fez refletir:
Será que somos capazes de atitude tão sublime?
Será que conseguiríamos nos libertar dos cadeados da vingança para beneficiar alguém que nos levou almas queridas e amadas?
O Evangelho é claríssimo nessas pontais questões do perdão, da vingança e justiça. Mas será que a clareza e docilidade evangélica encontram ressonância em nossos corações?
Natural que se me vejo envolvido em situações nas quais foram desrespeitados meus mais elementares direitos devo buscar que se cumpra a justiça.
Não se trata aqui da alienação e do não defender seus direitos, mas, sim, de auscultar o íntimo para identificar a inclinação que nos move:
É desejo de punição ou esperança de educação para que o mal não se repita?
Jesus sabia das dificuldades do ser humano e por isso recomendou o perdão irrestrito.
O mestre queria que deixássemos de lado essa conversa de fazer com que os outros sofram para pagar nosso sofrimento.
Se alguém lhe dá um tapa, oferece a outra face, dizia ELE.
Em outras palavras, se alguém nos ofende, ofereçamos a outra face, o perdão, a compreensão, o carinho, mas, jamais a face do revide, da violência, ou, pior: da justiça que se veste com o manto negro dessa chaga que ainda assola a humanidade: o desejo de punir o semelhante para ver saciada a fome atroz da vingança.
Vasculhemos nosso íntimo com sinceridade e confirmemos se é justiça ou vingança que nos faz caminhar.
Se for justiça, ótimo, estamos no caminho certo.
Mas, se for vingança, corrijamos já, agora, sem perda de tempo a fim de que não acumulemos débitos perante as leis que regem a vida.
Pensemos nisto!
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