A receita do sábio – Wellington Balbo

Fora acusado por Mileto, Anito e Licon de corromper a juventude ateniense, não quis defender-se e acabou sendo condenado a beber cicuta.
Contudo, embora alguns o acusassem, trazia sua consciência tranqüila; seu caráter rígido de nada lhe chamava a atenção; tinha a certeza de agir conforme seus princípios éticos e morais, nada tinha a temer.
O discípulo Criton, abalado com a condenação do mestre, preparou e lhe propôs fuga.
O sábio Sócrates, imperturbável, recusou, mesmo que as Leis o tornassem vítima, teria que respeitá-las; aguardou sereno em palestras espirituais o derradeiro momento de sua existência.
Eis sua marca – serenidade; o alvoroço das intempéries, os gritos estridentes da dificuldade, a incompreensão alheia, a flagrante injustiça humana, nada disso roubou o sagrado patrimônio da serenidade conquistado pelo filósofo.
Manter-se sereno mesmo que o mundo desabe sobre nós, manter-se sereno apesar dos percalços, manter-se sereno mesmo que todos nos acusem, manter-se sereno diante de ironias e injúrias.
Eis a chave, serenidade diante da vida, confiança no futuro, se agimos conforme os ditames de nossa consciência, nada há a temer, portanto, mantenhamos a serenidade.
Complicado?
A questão é prática, racional, mais complicado será se nos desesperarmos.
Serenidade não é algo fantasioso, misterioso, reservado apenas para criaturas que se sobressaíram e estão nos livros de história.
Serenidade é algo que temos que cultivar no dia a dia, no cotidiano.
No relacionamento familiar, na empresa onde trabalhamos, no ambiente religioso...
Serenidade diante dos filhos, dos amigos, no trânsito...
Serenidade é brisa a nos acariciar quando o furacão das dificuldades invade nossa vida.
Serenidade deixa de ser quimera para se tornar imperiosa nos dias atuais.
Quem não a procura comumente desespera-se e patina sem nada resolver.
Serenidade deve andar conosco para o bem de nossa saúde física – muitos sucumbem e explodem o corpo físico por repetirem anos a fio a intemperança diante dos “mesmos problemas - desafios” – se agissem com serenidade, equacionariam com maior facilidade e sem tantos prejuízos para si mesmo.
Alguns vão além e julgam não encontrar saída – acabam por cometer o ato tresloucado do suicídio.
Jogam a existência para o alto porque faltou serenidade na resolução dos embates existenciais.
Todavia, serenidade não é algo que aprendemos nas escolas, nos bancos acadêmicos, em cursos profissionalizantes.
Conquistar a serenidade requer mais que se debruçar sobre o mundo das letras ou resolver equações matemáticas.
Para fazer da serenidade uma tônica de nossa existência, se faz mister uma aprofundada reflexão sobre nós mesmos.
Em “O Livro dos Espíritos” – Parte 3º - Cap XII – Da Perfeição Moral – questão de nº 919, Kardec questiona os espíritos que o assistem:
919 – Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir a atração do mal?
R – Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.
Prezado leitor, o sábio da antiguidade que se referem os Espíritos é o mesmo da história acima – Sócrates; que graças a sua infinita serenidade teve o prazer de colaborar na Codificação da Doutrina Espírita, juntamente com um de seus mais lúcidos discípulos, o também sábio Platão.
Só o conhecimento sobre nossas virtudes e limitações, anseios, receios e aspirações nos dará o equilíbrio para a conquista da tão sonhada serenidade que nos possibilitará chances reais de se reformar intimamente nesta vida, nos afastando cada vez mais do mal e por conseqüência nos aproximando do bem.
Pensemos nisso!


KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 50.ed. Trad. Matheus Rodrigues de Camargo. Capivari - SP, EME Editora, 2004. 291 p.

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