Kardec e a humildade

Uma das principais características do bom líder do século XXI é a humildade. Acatar conselhos, ouvir sugestões e se necessário modificar o planejamento, reconsiderando decisões, são provas de humildade e real preocupação com a conquista do objetivo traçado.

Por isso, falemos de Allan Kardec, um visionário que possuía as características do líder do século XXI no distante século XIX. Corria o mês de março do ano de 1.856 e Kardec escrevia em seu gabinete de trabalho quando começou a escutar batidas na divisória que separava os cômodos. Verificou a procedência das pancadas e nada encontrou, mas elas persistiam, teimosas como se quisessem lhe chamar a atenção.
No dia seguinte, em sessão na casa do Sr. Baudin, Kardec pediu explicação para as insistentes batidas. Ficou então sabendo que era seu Espírito familiar estabelecendo contato, dizia se chamar Verdade, e a razão das batidas era realmente para despertar sua atenção em relação a um grave erro cometido no trabalho que ele – Kardec - realizava na noite anterior.

Disse-lhe o Espírito: “Releia da 3a a 30a linha e verás um grave erro”.
Após analisar o que pedia o Espírito Verdade, Kardec percebeu o erro e admirou-se de tê-lo cometido. Humildemente refez o trabalho e encontrou mais erros, retificou-os e seguiu adiante, rumo à gloriosa codificação da Doutrina Espírita.
A humildade é nobre virtude que nos deixa lúcidos ,com os pés fincados no chão da realidade, sem contudo nos impedir de alçar vôos mais altos. Imagine, caro leitor, se Kardec houvesse se guiado pela prepotência, melindrando-se com o pedido feito pelo Espírito de Verdade? Imagine se ele houvesse se negado a rever o trabalho? Certamente a Doutrina Espírita não seria uma obra dos Espíritos, mas sim de uma mente intoxicada pela prepotência a refletir grosseiros equívocos provenientes de seu comportamento arrogante. No entanto, Kardec, alma lúcida e coerente, sabia que um dos segredos para o êxito da tarefa que lhe fora confiada estava no cultivo da humildade, para que fosse de fato um eficaz intérprete da espiritualidade. É através das atitudes cotidianas que percebemos a grandeza do caráter de uma pessoa. E são nas entrelinhas das ponderações e ações de Kardec que comprovamos a envergadura moral de seu espírito, seu comprometimento com a causa e seu desprendimento em colocar o interesse coletivo em primeiro plano. Real prova de humildade.

A humildade nos eleva porque nos mantém sempre com a mente arejada, liberta de condicionamentos e preconceitos que nos fazem prepotentes, a considerar que somos donos absolutos da verdade.

Já paramos para pensar em quantos dissabores teríamos evitado se humildemente nos dispuséssemos a observar algumas sugestões que nos apresentam?
Ah, como a prepotência nos deixa cegos fazendo-nos insistir nos erros. E curioso: muitas vezes persistimos nos erros não por ignorância, mas sim por falta de humildade em admitir que a sugestão que nos apresentaram, o conselho que nos deram ou a retificação que nos pediram estavam no caminho correto, e que, deveríamos ter seguido aquela estrada, porém, não o fizemos para como vulgarmente se diz: “Não dar o braço a torcer”.

Importante que não sejamos fantoches manipulados pela opinião alheia, contudo, também importante que saibamos analisar as sugestões que nos chegam, e, humildemente, se necessário for, que aprendamos a traçar um novo caminho para a empreitada que estamos à frente, porque assim estaremos verdadeiramente no caminho da conquista dessa grande virtude: a humildade.

Pensemos nisso.

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