Alguém na Vida

A mãe diz ao garoto: “Vá estudar para ser alguém na vida”. Sugere que apenas os que estudam alcançam o título de alguém, os que não tiveram a oportunidade de freqüentar bancos escolares e acadêmicos são meros “ninguéns”, verdadeiros fracassos invisíveis à sociedade. Uma pena que muitos pais digam isso aos filhos. Incutem na alma da criança idéias distantes da realidade. E o garoto, incentivado pelos pais, vai à escola não para aprender, mas sim para ser esse “tal de alguém na vida”. Breve percebe que esse ser “alguém na vida” preconizado pelos pais, equivale a gozar de status social, prestígio, ter inúmeros bens e alcançar a independência financeira. Se não há maturidade espiritual por parte do espírito reencarnante ele mergulha nessa visão materialista e passa a enxergar seus pares não pelo caráter, mas sim pela conta bancária. E então a criança de ontem e adulto de hoje constrói amizades superficiais e relacionamentos baseados em interesses sem compromisso com a afinidade. Provavelmente terá como companheira uma vida vazia, sem grandes anseios nas questões que envolvem seu desenvolvimento como ser humano. Navegará sem rumo, distantes dos porquês da existência, sem cogitar de onde veio, o que faz aqui e para onde vai. Por isso a Espiritualidade afirma que a fase da infância é a mais propícia aos ensinamentos morais que transformam as crianças nos senhores conscientes do amanhã, sabedores de que ser “alguém na vida” vai muito além do que receber aplausos pela profissão esposada ou conquistar o mundo por intermédio das posses materiais. Ser alguém na vida é, antes de tudo, obedecer aos ditames da consciência. Ser alguém na vida é estudar para obter conhecimentos que livram da ignorância. Ser alguém na vida é estender a mão ao amigo, apoiar os que caem, alimentar os famintos e lutar pela paz. Não importa se estamos como mecânicos, médicos, borracheiros ou garis, não importa se estamos como professores, artistas, vendedores, advogados ou cabeleireiros, pouco importa se moramos em mansão ou casa simples, para ser alguém na vida basta procurar o crescimento interior e combater as mazelas íntimas. Lembro-me de minha saudosa mãe, eu dizia a ela de minha vontade em envergar a camisa da seleção brasileira de futebol, queria ser alguém na vida, ou melhor, alguém no mundo do esporte, embora seu apoio incondicional, nunca deixou de me orientar nos caminhos da virtude, mostrando as belezas de ser alguém na vida praticando o bem aos semelhantes. Se houve desvios de minha parte nessa caminhada certamente não é culpa dela, mas minha, que não compreendi suas lições e palavras sábias afirmando que ser alguém na vida é muito mais do que ter os bens da vida. Aliás, é sempre importante salientar que não bato palmas à miséria material, todavia, bom lembrar que ser alguém na vida independe da condição social. Daí a relevância de os pais educarem seus filhos como espíritos milenares que são, com tendências, aptidões, virtudes e limitações próprias, não violentando suas vontades, nem os obrigando a esposar esta ou aquela profissão porque transforma em “alguém na vida”, o que na linguagem contemporânea quer dizer: polpuda conta bancária.

A propósito, recordo-me de um livro de Sidney Sheldon em que um dos personagens vivenciou o drama de ser “alguém na vida”. Os pais praticamente obrigaram a filha – personagem do livro - a tornar-se médica. A garota, de frágil personalidade, atende aos anseios paternos, porém, sua verdadeira vocação era a enfermagem. Diante de tamanha violação de aptidão a filha tornou-se médica frustrada e infeliz. Apenas anos mais tarde conseguiu realizar seu verdadeiro sonho: ser enfermeira. Fácil, portanto, concluir: muito melhor um enfermeiro feliz e competente do que um médico incompetente e frustrado. Em realidade, todos nós somos muito mais do que mero alguém, somos espíritos imortais, filhos de Deus e destinados ao sucesso e à felicidade, por isso, pais, mães e educadores, jamais violentem a vocação de seus tutelados ,obrigando-os a seguir estradas tortuosos para serem esse tal de “alguém na vida”.

Pensemos nisso.
Wellington Balbo

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