O Espiritismo e a Lei Seca.

O mundo sofre com suas paixões de carnaval. A Lei Seca foi uma delas. No começo apenas flores: redução do número de acidentes e óbitos no trânsito. O bafômetro tornou-se o novo príncipe da vida, os motoristas temiam-no e por isso não abusavam do álcool ao volante. Hoje o bafômetro transformou-se em sapo, está esquecido, apagado pela miopia dos homens.
Números mostram esta triste realidade: no início da Lei Seca, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal, os números de acidentes nas estradas reduziram-se em 13,6% em se comparando com os do mesmo período do ano de 2007. Nos três primeiros meses de vigor da lei houve uma redução de gastos com acidentes automobilísticos no Estado de São Paulo no valor de 11 milhões. Depois de alguns meses de vigência da lei e do afrouxamento da fiscalização, os números de acidentes no trânsito não apresentam mais redução tão acentuada, estima-se que caíram de 13,6% para 8%. A lei corre o risco de virar letra morta, esquecida, desprezada. Há várias razões para este desprezo. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego, Guilherme Durães Rabelo, a Lei Seca é importante, porém, faltam mecanismos e condições para fazê-la funcionar. Exemplo clássico é a falta de bafômetros, o que impossibilita uma fiscalização mais rigorosa, então a lei cai em desuso.
Em minha opinião a lei vem perdendo força por um simples motivo, aliás, as pessoas elaboram grandes elucubrações sobre o ser humano e seus problemas quando tudo é muito simples: a Lei Seca transformou-se em letra morta porque as pessoas são deseducadas, indisciplinadas e despreparadas para o convívio social. Falta a todos nós, ou pelo menos a grande maioria, respeito ao semelhante. De nada adianta atacar o efeito se as causas não são combatidas. O indivíduo bebe e dirige porque não tem educação e respeito pela sua vida e do seu próximo. Falta-nos saber a real dimensão e importância da existência humana. Enquanto a humanidade pensar que a vida é somente gastar, comprar, passear e “bebemorar”, nenhuma Lei vai de fato emplacar. Embora ainda necessária, é tremendamente absurda a questão da fiscalização. Até quando ficaremos vivendo em um mundo em que todos devem ser fiscalizados para não cometer besteiras. A mulher fiscaliza o marido para que ele não adultere. O patrão implanta câmeras na empresa para vigiar os funcionários. A polícia serve-se de bafômetros para “educar” o motorista deseducado. Vivemos o mundo da fiscalização, da imposição, do medo, da medida imposta de cima para baixo. A mentalidade da fiscalização ainda perdura em nosso mundo porque não evoluímos a ponto de entrarmos no mundo da educação, ou melhor dizendo, o mundo da regeneração. A propósito, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” Santo Agostinho tece preciosos comentários sobre a natureza dos Espíritos habitantes dos mundos de fiscalização, ou melhor dizendo, mundos de provas e expiações:
“Que vos direi, que já não conheçais, dos mundos de expiações, pois que basta considerar a Terra que habitais? A superioridade da inteligência, num grande número de seus habitantes, indica que ela não é um mundo primitivo, destinado à encarnação de Espíritos ainda mal saídos das mãos do Criador. Suas qualidades inatas são a prova de que já viveram e realizaram um certo progresso, mas também os numerosos vícios a que se inclinam são o indício de uma grande imperfeição moral. Eis porque Deus os colocou num mundo ingrato, para expiarem suas faltas através de um trabalho penoso e das misérias da vida, até que se façam merecedores de passar para um mundo mais feliz”.
A fiscalização é necessária para comandar indivíduos despreparados, ociosa e pouco eficaz para vigorar em mundo consciente. O medo e a imposição serão substituídos pela educação tão logo as pessoas conquistem consciência mais ampla da vida e suas leis. Quando isso ocorrer estaremos habitando mundos mais felizes. E prossegue Santo Agostinho mostrando-nos a natureza dos Espíritos habitantes dessas moradas mais serenas denominadas pela Espiritualidade de mundos de regeneração:
“(...) Os mundos regeneradores servem de transição entre os mundos de expiação e os felizes. A alma que se arrepende, neles encontra a paz e o descanso, acabando por se purificar. Sem dúvida, mesmo nesses mundos, o homem ainda está sujeito às leis que regem a matéria. A humanidade experimenta as vossas sensações e os vossos desejos, mas está isenta das paixões desordenadas que vos escravizam. Neles, não há mais o orgulho que emudece o coração, a inveja que o tortura e o ódio que os asfixia. A palavra amor está escrita em todas as frontes; uma perfeita equidade regula as relações sociais; todos manifestam a Deus e procuram elevar-se a Ele, seguindo as suas leis (...)”.
Chamo a atenção para o comentário do sábio Agostinho: “uma perfeita equidade regula as relações sociais”. Exatamente, em mundos mais felizes os habitantes adquiriram maior grau de consciência e por isso respeitam as leis em voga. Isso mostra que quanto mais nos adaptarmos as leis do universo, procurando respeitá-las e compreendê-las, mais felizes seremos, e, consequentemente melhoraremos o astral do mundo onde estamos vivendo, transformando-o para melhor.
No entanto, para isso é preciso começar a disseminar a cultura da educação mostrando às pessoas que o código de leis mais sábio está gravado na própria consciência. Para evitar desvios basta consultar a consciência. Ou seja, irei dirigir sóbrio porque isso é correto e não porque há lei impondo essa medida. O dia em que todos assumirem o compromisso para com a educação de suas tendências não mais será preciso fiscalizar, punir, multar. As leis então deixaram de ser paixões de carnaval e serão respeitadas integralmente por todos. Deixaremos, pois, o estágio de mundo de fiscalização para entrarmos no mundo da educação, ou, melhor dizendo, mundo de regeneração.

Pensemos nisso.

Wellington Balbo - Bauru - SP.

Nenhum comentário: