Caso de Santo André:- os caçadores de lixo.

A mídia em suas mais diversas formas comporta-se de maneira equivocada, diria até que imprudente e irresponsável na busca por audiência. No dramático caso do seqüestro na cidade de Santo André não foi diferente. Jornalistas apinhavam-se na procura por entrevistas, programas de televisão exploravam incansavelmente a insanidade do jovem que se desequilibrara emocionalmente e seqüestrara a ex namorada, jornais tingiam suas páginas estampando o descontrole e o caos que se abateu sobre a família da garota e todos moradores do residencial. E pior: tudo ocorria em meio aos trabalhos da polícia que tentou por vários dias demover o jovem da tresloucada idéia de pôr fim à sua vida e da garota. Tudo terminou de maneira trágica, tudo foi filmado, noticiado, incansavelmente. Parece mesmo que os jornalistas estão à caça de lixos produzidos pela insanidade humana; lixos estes que se refletem em audiência e dinheiro para suas emissoras. Uma pena! Porém, nada contra o jornalismo que, aliás, diga-se de passagem, serve de notável instrumento à sociedade, informando e contribuindo para a solidificação da democracia, além de, obviamente, auxiliar para que o cidadão adquira uma postura crítica frente aos desafios da atualidade. A informação é benéfica não restam dúvidas quanto a isso, no entanto o sensacionalismo, a repetição, o bater na mesma tecla e as especulações atrapalham e muito o trabalho da polícia, sem contar que o sensacionalismo por si só cria uma atmosfera psíquica densa, nebulosa, tendendo a dificultar ainda mais as coisas. Não há necessidade das emissoras de televisão, rádios e jornais vasculharem com tanta volúpia os lixões e as mazelas das pessoas e da sociedade. Parece que existe um mórbido prazer em relatar acontecimentos trágicos, pintados com o sangue da inconseqüência. É como afirma a sabedoria popular: “Cada macaco no seu galho”. À imprensa cabe o papel de informar, à polícia a incumbência de negociar e transmitir segurança e ao advogado a tarefa de orientar e esclarecer as questões pertinentes a Lei. Mas há uma inversão, muitos sonham em ser estrela, aparecer na TV, conceder entrevista, e a mídia, ávida por audiência alimenta a cultura das “estrelas por alguns dias” por isso, nesses casos de grande repercussão quase todos anseiam pelas câmeras e pelos 15 minutos de fama. Entrevistas, entrevistas e entrevistas... Percebe-se, pois, um enorme apreço pela notoriedade, o que faz um macaco pular no galho do outro e atrapalhar o andamento de todo caso.
A propósito, há aproximadamente 30 dias proferi, na mesma Santo André do seqüestro, palestra em respeitável instituição que desenvolve largo e belo trabalho de promoção do ser humano. A instituição atende mais de 1.500 crianças carentes por dia dando todo suporte necessário, desde alimentação até educação e carinho. Os pais dessas crianças nada desembolsam e podem, portanto, trabalhar tranquilamente, seguros de que seus filhos estão sendo bem cuidados. Nas portas da instituição não vi, em momento algum, batalhão de repórteres para entrevistar voluntários ou funcionários. Não vi jornalistas para divulgar nas páginas de seus jornais o notável trabalho realizado. Não vi multidões de pessoas para admirar a maravilha do amor ao próximo que ocorre ali, todos os dias. Vi sim, pessoas comprometidas com o bem estar do outro, voluntários que labutam com garra e determinação para diminuir um pouco o cenário de desigualdade vigente em nossa sociedade. Vi muitos rostos simpáticos, sorrisos amigos e crianças felizes com o carinho e atenção que lhes é dispensado. Na mesma Santo André da tragédia, dos espinhos e das dores, vi flores, um jardim e muitos trabalhadores. Precisamos todos focar o positivo, sem alienação é verdade, mas focar o positivo para que deixemos de dar audiência aos caçadores de lixo que pautam suas ações apenas no ministério de levantar as mazelas da humanidade.

Pensemos nisso.


Wellington Balbo

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