Catarina
acordou assustada pelos terríveis pesadelos, sonhara que seu querido filho
José, de apenas 20 anos, vinha a falecer subitamente.
O
sol já raiava e ela levantou-se para os afazeres da manhã, iria esperar José
que chegaria do trabalho logo mais. Rapaz esforçado, trabalhava a noite toda a
fim de oferecer melhores recursos à sua mãe, porquanto, eram apenas os dois
desde que o pai falecera há 7 anos,
filho dedicado e amoroso, era exemplo de ser humano.
Contudo,
naquele dia Catarina trazia o coração angustiado pelo pesadelo, queria logo ver
José, abraçá-lo e beijá-lo, saber se
estava bem, que nada de mal lhe acontecera.
Não
tardou e o belo rapaz adentrou a casa, beijou a mãe e estranhamente pediu um
remédio para dor de cabeça, o coração de Catarina descompassou, José nunca
reclamava de dor de cabeça, pareceu naquele instante que seu garoto estava
mesmo de partida...
Não
demorou 5 minutos e José avisou que sua dor aumentava, para logo em seguida
tombar inconsciente.
O
desespero tomou conta daquela mãe e foi com grande custo que ela acionou o
serviço de emergência.
Chegando
ao hospital soube que seu filho tivera um aneurisma cerebral e seu estado era
grave, praticamente irreversível.
Em
um repente de coragem, tirando forças das entranhas da alma, perguntou ao médico:
-
Ele já está em morte cerebral?
A
resposta do doutor foi enfática:
-
Praticamente. Não há mais nada a ser feito.
A
mãe, com lágrimas nos olhos, coração sangrando pela dorida notícia, redargüiu:
-
Então Doutor, quando houver a certeza da morte cerebral, o senhor por favor
providencie a doação dos órgãos, porque este era o maior desejo de José.
Algumas
horas se passaram daquele triste diálogo e sorrisos brotaram para três pessoas,
ou melhor, três famílias.
·
Artur recebeu o coração de José.
·
Arnaldo recebeu as córneas.
·
Graziela os rins.
Três
mães abençoavam a inesquecível atitude de D. Catarina.
Bênçãos
que repercutiam como afagos invisíveis amenizando sua dor, não obstante a toda
amargura, trazia consigo a certeza de que fizera o melhor doando os órgãos do
filho, a consciência do dever cumprido e a certeza de que estava beneficiando o
semelhante serviam-lhe de alívio e consolo.
Alguns
dias depois do passamento de José, três carros pararam em frente a casa de Dona
Catarina, eram as famílias dos beneficiados pela doação, vinham agradecer o
gesto de renúncia e amor praticado por aquela mãe, que mesmo em momento de
extrema dor não se esqueceu de pensar na dificuldade alheia.
Desde
então, nasceu ali grande amizade que certamente irá perdurar para todo o
sempre.
Criaturas
que já superaram as barreiras do egoísmo conseguem beneficiar o semelhante
mesmo quando experimentam os espinhos da dor a lhes agulhar o coração.
Amadurecidas,
tratam de transformar seu sofrimento em momentos de beleza e alegria para o
próximo.
Com
isso sofrem menos, choram menos, reclamam menos, estão ocupadas em enxugar
lágrimas alheias e acabam por esquecer das suas próprias.
Amigo
leitor, diante do inevitável, melhor que olhemos ao nosso redor para que não
fiquemos atrelados a nosso sofrimento, a melhor maneira de estancar a dor que
nos abala é trabalhar pelo bem comum, estendendo a mão e exercitando o amor.
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