O centro que não era espírita...

Gervásio, orador espírita há mais de 20 anos fora convidado para um ciclo de palestras em região distante. Não obstante as dificuldades geográficas, aceitou o convite com muito prazer, porquanto apreciava conhecer pessoas e divulgar os ensinamentos do Cristo tão bem explicados por Allan Kardec.

Ao chegar a um dos municípios para a palestra teve recepção calorosa. Aquilo o deixou animado. Gervásio, admirado com tanto carinho, sensibilizou-se. Retribuiu a cada abraço de maneira efusiva demonstrando enorme gratidão.

Depois da costumeira conversa de boas vindas, os anfitriões levaram-no para o local da palestra. O orador estava ansioso para conhecer o centro espírita. Mas, lá chegando, para sua surpresa constatou que o centro não era espírita, se é possível dizer que existe algum centro que não seja espírita.

Sim, os amigos que calorosamente receberam Gervásio não eram espíritas, mas sim umbandistas.

Gervásio não sabia, afinal, fora convidado para falar em centro espírita, mas...

Mas, o orador não se fez de rogado.

Se pensa que ele foi embora, caro leitor, está enganado. Gervásio ouviu com atenção os hinos entoados pelos amigos da Umbanda e, posteriormente trouxe a todos sua mensagem, obviamente que fundamentada nas lições de Allan Kardec, afinal, ele era espírita.

Ao término da palestra, aplaudido de pé pelos amigos umbandistas, despediu-se levando consigo as benção de Pai Joaquim...


Espiritismo e Umbanda são diferentes, qualquer mediano conhecedor da Doutrina Espírita sabe disso, portanto, ocioso relatar. No entanto, qualquer mediano conhecedor da Doutrina Espírita sabe da essência caridosa e humanitária do Espiritismo.

A Doutrina Espírita ensina que o importante é fazer o bem, agir corretamente. Divulgar e exemplificar o amor são princípios fundamentais que sobrepujam qualquer crença. Justamente este assunto foi abordado por Kardec em O Livro dos Espíritos, indicamos ao leitor consultar a questão de 982 para maiores informações, todavia, podemos adiantar que o bem é sempre o bem.

A verdade é que somos irmãos, caro leitor! Gervásio agiu corretamente! Respeitou a crença alheia. Fez melhor: interagiu sem criar preconceitos ou lamentáveis barreiras impostas pela velha e triste discriminação.

Lembrei-me então de Mãe Menininha. Que maravilha sua existência! A mais famosa mãe de santo do Brasil foi a representação legítima do respeito às diferenças. Freqüentava as missas da igreja católica. Nossa querida Mãe Menininha pela dignidade de suas ações tornou-se a grande responsável pela quebra de um paradigma: mulheres com saias e adereços poderiam assistir missas. Maravilha!

Gostaria muito de tê-la conhecido. Infelizmente não tive oportunidade. Aliás, tenho certeza que Mãe Menininha pelo seu apreço ao respeito deve ser grande amiga de nosso Chico Xavier. Aliás, eram de estados vizinhos, estavam próximos. Ela na Bahia, ele em Minas Gerais.

Também não tive a oportunidade de conhecer Chico.

Quem sabe no futuro, quem sabe no futuro eu não tenha a chance de encontrar em alguma esquina do universo esses baluartes do respeito ao próximo.

E o Gervásio? Ah, sim, o Gervásio está bem, com certeza perambulando por esse mundo a falar das glórias do Evangelho em centros espíritas ou nem tanto...


Wellington Balbo – Bauru - SP

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