Amor aos idosos

Em palestra por uma cidade do interior de nosso estado conheci notável instituição, autêntica casa de amor e apoio às pessoas que já ultrapassaram incontáveis primaveras de existência terrena, resumindo: um lar de idosos.

Impressionou-me o carinho e a atenção destinada pelos voluntários àquelas criaturas de cabelos esbranquiçados pela experiência dos anos, amorosos e abnegados todos servidores desvelam-se em cuidados. Enfermeiros competentes ministravam o medicamento em hora apropriada. Refeição balanceada, tudo para que os dias sejam agradáveis e as noites serenas.

No entanto, chocou-me ainda mais o fato de que muitos daqueles senhores e senhoras têm familiares e não recebem sequer uma visita. Estão relegados pelos filhos, sobrinhos e netos ao abandono. Uma pena! Por isso, talvez, muita gente tenha medo do avançar dos anos, em realidade o medo é do abandono e não da idade.

Uma mostra da sociedade descartável, em que a pessoa é reverenciada apenas enquanto está produzindo, depois que a saúde, já frágil pelos embates da existência começa a dar sinais de precariedade, muitos são abandonados, relegados ao desprezo, sem o carinho e conforto dos familiares.

Ah, sociedade descartável! Ah, cultura do “Tá produzindo!”.

Mas não quero aqui deixar registrado críticas, aliás, para que a mensagem torne-se clara não precisamos exaltar os maus exemplos, podemos, então, aplicar o antídoto: os bons exemplos, o amor!

Em vez de criticarmos a postura de alguns, podemos exaltar atitudes de outros.

Falemos então de Inácio, jovem franzino, cabelos pretos, lisos, sorriso franco e aberto. Bondoso ao extremo, Inácio é o tipo de pessoa que nos deixa à vontade em sua presença, conversa pouco, diz muito. Figura incrível, nem parece habitante deste planeta. O jovem Inácio é solteiro e dedica grande parte de seu tempo aos cuidados dos idosos enfermos. Tomou gosto pelo voluntariado depois de cuidar por 10 anos de sua mãe, senhora que vivia com grandes dificuldades de locomoção devido a um Acidente Vascular Cerebral, o temido AVC.

Todos os dias, após seu expediente no trabalho profissional Inácio dedica duas horas aos cuidados desses idosos. Banha-lhes, dá de comer, conversa, escuta, acaricia. Costuma dizer que faz pouco, gostaria de dedicar-se em tempo integral aos amigos mais “experientes”, é assim que carinhosamente ele os chama.

Inácio trabalha com idosos por amor. Na vida não adianta cobrarmos nada de ninguém. Amor cobrado não é amor, carinho que se pede não vem espontâneo. Cada um de nós contribui com o que tem em seu coração. Se indigentes de sentimentos colaboramos quase nada. Se milionários de amor, à semelhança de Inácio, desvelamo-nos em carinho para com o semelhante. Os filhos que abandonam os pais são ainda indigentes de amor. No entanto, o mundo não é feito apenas de ingratidão, ainda bem que há almas como Inácio que, mesmo sem laços consangüíneos devotam atenção ao próximo, contribuindo para fazer brotar um sorriso na face daqueles que ajudaram a construir a história de nosso país.

Podemos, portanto, seguir os passos de Inácio e arregaçarmos as mangas engajando-nos no trabalho voluntário. Poderíamos, então, primeiramente conhecer as instituições de nossa cidade e região que realizam esse tipo de tarefa. Num segundo estágio poderemos começar colaborando 1 hora por semana e, gradativamente irmos aumentando nossa contribuição. Consideremos: será um tempo bem aplicado, são oportunidades que teremos de conviver com outras criaturas, enfim, largas chances de progresso. Não há bem da Terra que recompense a paz interior advinda de nosso esforço em favor de alguém. Ajudar aos outros equivale a, antes de tudo, auxiliar a nós mesmos. Inácio fez sua parte, cabe a nós realizarmos a que nos compete.

Pensemos nisso.

Wellington Balbo

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