Um mundo carente de perguntas


As facilidades do mundo contemporâneo são decorrentes do progresso efetuado ao longo dos milênios de civilização. Não há como negar que as coisas hoje estão bem mais fáceis do que ontem. No entanto, essas facilidades podem nos anestesiar tirando-nos a noção da realidade. Explico-me: dia desses meu irmão contou-me que comprou um aparelho para tonificar seus músculos. Apenas alguns minutos por dia, lendo jornal e utilizando o aparelho ao mesmo tempo e pronto... seus braços ficarão totalmente desenhados. O melhor: sem grandes esforços. Ri de sua ingenuidade, gastou um dinheirão e não terá o tão sonhado corpo perfeito. As facilidades podem sim anestesiar a mente. Quer músculos? Não há mágicas, vá malhar e malhar muito. Depois dizem que os espíritas acreditam no sobrenatural, quer mais sobrenatural do que ganhar músculos sem malhar?
Isso ocorre porque vivemos em um mundo carente de perguntas, de reflexões. Todos têm respostas, mas ninguém traz perguntas. São produtos que prometem absurdos, simpatias para emagrecer, remédios que trazem a felicidade, ofertas para ganhar dinheiro fácil. Respostas para as mais variadas situações. Um farmacêutico no RS foi preso vendendo uma pílula para enganar o bafômetro. Ele tinha a resposta para driblar a Lei, mas certamente não fez perguntas relacionadas às conseqüências de sua atitude, o que elas implicariam à vida de outras pessoas. Percebe-se um vendável de respostas, muitas desconexas com a realidade, mas as perguntas andam escassas, poucos são os atrevidos a refletir e formular perguntas concernentes aos porquês da existência. Recebi telefonema convidando para participar de bolão da mega sena. Agradeci mas declinei o convite, brincando: “Obrigado, mas não quero ficar rico”. O interlocutor desligou o telefone e deve ter pensado que sou maluco. Imagine não querer ser rico nos dias de hoje. Pensei: O que eu faria com tanto dinheiro? Meu cérebro começou a entrar em parafuso. Percebi que não estava pronto para enfrentar a difícil prova da riqueza material. Creio que sucumbiria diante de tão complicado desafio. O melhor, pelo menos em meu caso, é trabalhar muito e usar a criatividade, para quem sabe, um dia possa eu fazer jus de tutelar bens materiais e distribuir o progresso. Mas o fato é que muitos querem a riqueza fácil, e a consideram uma resposta aos seus problemas financeiros e aos anseios existenciais. Entretanto, poucos cogitam de perguntar se saberiam de fato administrar com coerência os patrimônios da matéria, a fim de multiplicar benefícios em prol do bem coletivo. Muitas respostas, poucas perguntas. Deveríamos questionar mais, principalmente a nós mesmos. Aprofundar as perguntas ao nosso íntimo questionando se estamos agindo de forma correta ou não. Ir além da superfície dos assuntos e não se deixar levar pelo turbilhão de informações – muitas nem sempre verídicas – que a mídia despeja diariamente e que nos fazem, não raro, agir mecanicamente, sem perguntar, sem questionar, sem passar pelo crivo do raciocínio, indo no embalo das notícias a cometer flagrantes injustiças passando adiante informações descomprometidas com a verdade.
Uma sociedade sem perguntas equivale a uma sociedade sem conteúdo, sem maiores aspirações, sem grandes buscas pelo progresso. É preciso esquecer a formula vigente do mundo moderno afeito às respostas prontas e formular perguntas inteligentes referentes aos porquês da vida para que obtenhamos respostas concretas, oriundas da elaboração mental do indivíduo, que busca por intermédio das perguntas formuladas a si e a sociedade encontrar respostas que o façam viver melhor, construindo então um mundo livre dos cadeados mentais que freiam o progresso individual e coletivo.
Pensemos nisso


Wellington Balbo
Bauru/SP

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