No Espiritismo, nada de hieróglifos!

Wellington Balbo – Bauru – SP.

A civilização egípcia era detentora de vasta cultura e foi a criadora da escrita hieroglífica egípcia que teve seu aparecimento por volta do ano 3000 antes de Cristo. Importante ressaltar que a escrita teve papel fundamental no desenvolvimento humano na Terra. Hieróglifo, palavra que significa sinais sagrados, era uma linguagem portadora de muitos segredos com forte cunho religioso, a representação dos hieróglifos ficava a cargo dos intelectuais do antigo Egito, denominados escribas, portanto, essa forma de comunicação não era acessível ao restante da população. Mais de 7 centenas de figuras eram utilizadas para descrever os hieróglifos. Como você pode perceber, caro leitor, a questão que envolve a elitização do conhecimento e sua manipulação por parte das classes dominantes é um fenômeno que ocorre desde as mais distantes civilizações. Os hieróglifos ficaram registrados em tumbas e catacumbas, contudo, com o desaparecimento dos escribas, as chaves para abrir essa forma de comunicação estavam trancafiadas. A abertura da porta para decifrar esse enigma chegou apenas 1500 anos depois, e abri-la coube ao professor francês Jean-François Champollion (1790-1832). Champollion tinha apenas 12 anos quando resolveu iniciar romper com o enigma dos hieróglifos, onze anos depois o francês decifrou o primeiro hieróglifo.
Entretanto, hoje os tempos são outros, as escrituras e documentações já não são feitas com hieróglifos, a evolução humana tratou de democratizar a comunicação, mostrando, inclusive, que o progresso se faz também através de uma comunicação eficaz. Comunicar-se bem é um grande diferencial para o sucesso. No entanto, ainda há alguns desencontros quando fala-se em comunicação. Muitos não compreendem seu sentido e julgam que a comunicação se constitui apenas em falar, enviar e mail, ou transmitir algum recado. Importante considerar que o ato da comunicação vai além dessa estreita visão, tornando-se tão fundamental quanto respirar ou alimentar-se.
A falta de comunicação, ou a má qualidade na comunicação é responsável por grandes desentendimentos no seio da sociedade em todos os seus quadrantes. Casais que brigam interminavelmente porque ambos não conseguem uma boa qualidade na comunicação e organizações que não raro têm grandes prejuízos porque seus membros não souberam praticar a comunicação eficaz são alguns dos exemplos que podem ser citados. A propósito, dia desses na cidade de Bauru, um incidente ocorreu em organização porque não houve comunicação entre as pessoas. O gerente geral pediu para que fosse colocado fogo no terreno ao lado, que também pertence à empresa, porém, não avisou ninguém. O supervisor coincidentemente passou pela empresa naquele final de semana, vendo o fogo tomou a iniciativa de apagá-lo. Resultado: uma grande perda de tempo porque o fogo não era para ser apagado. No caso em questão os prejuízos não foram tão grandes, mas poderiam ter sido. Lembro também de farmacêutico que leu o receituário do médico errado, neste caso o resultado foi dramático, ocasionando a morte da criança que tomou grande dose do remédio. Infelizmente a má comunicação pode sim trazer prejuízos incalculáveis.
Portanto, no que tange a este assunto, imprescindível que a boa comunicação também seja aplicada no Centro Espírita, entre seus participantes e freqüentadores. Dia desses, levei um primo católico para assistir palestra em um centro espírita na cidade de Bariri. No meio da palestra fiz uma citação de Santo agostinho, o primo católico disse: “Puxa, não sabia que vocês espíritas acreditavam em santo”, foi então que percebi a necessidade de tomar maiores cuidados ao transmitir uma idéia, para que o receptor, no caso os ouvintes da palestra não tenham uma noção equivocada dos princípios do Espiritismo.
O mesmo se aplica aos escritores espíritas. As palavras devem ser escritas de forma clara, simples e objetiva, tendo como base sempre a codificação do Espiritismo. Nada de hieróglifos, o Espiritismo necessita de ser popularizado. Assuntos que tratam de outras religiões devem ser motivo de maiores cuidados, para que o leitor não tenha a idéia de que o Espiritismo é uma religião que segrega ou promove o preconceito. Digo isto porque dia desses li um artigo espírita com a seguinte informação do autor: “Não conheci ninguém que tenha estudado o Espiritismo e não tenha se rendido aos seus ideais libertadores, mudando, pois, de religião.” Afirmações desse quilate podem gerar a idéia de preconceito ou pretensa superioridade, fechando a tela mental do leitor e transmitindo um conceito negativo do Espiritismo. Polarizar em todos os sentidos é extremamente perigoso. Daí a necessidade do cuidado para abordar questões delicadas.
Expositores, oradores, dirigentes e escritores espíritas devem estar antenados quanto a necessidade da boa comunicação. Como já citado, nada de hieróglifos, nada de linguagem ininteligível. Os próprios espíritos que auxiliaram Kardec na codificação usaram uma linguagem acessível ao nosso estágio evolutivo. Imagine se eles – os Espíritos – houvessem se utilizado de termos não conhecidos por nós, numa linguagem rebuscada sem compromisso com a boa comunicação. No entanto, o advento da codificação foi realizado de forma clara e objetiva, tanto por parte dos sábios da Espiritualidade, quanto por parte do professor Allan Kardec.
Um exercício importante a ser feito é colocar-se na posição do leitor ou daqueles que vão ao centro espírita ouvir palestras. O segredo é ser honesto consigo mesmo e analisar se as colocações não podem ser interpretadas de forma equivocada. As pessoas são dotadas de capacidade de interpretação diversa, e esta capacidade de interpretação, muitas vezes está vinculada ao momento que elas estão vivenciando, por isso é de suma importância que as colocações do escritor ou orador espírita sejam coerentes, compatíveis com o bom senso tão pregado pelo Codificador.
Uma comunicação eficaz por parte dos espíritas tornará o Espiritismo acessível a todos cumprindo seu papel de confortar e instruir, de modo a colaborar para a reforma moral de nosso planeta, e para isso nunca é demais salientar: no Espiritismo, nada de hieróglifos!

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